a beleza, o carisma, o fino trato,
um simples gato pode ser poesia...
1
Chegando devagarinho,
o gato leva o silêncio
ao canto do passarinho.
O amor indiscreto
dos gatos de rua
ofende a pureza da lua?
3
Na mesa posta,
o gato se lambe
porque se gosta.
Um pulo de gato,
gracioso e exato,
qual verso no ar...
5
Tapeando a rosa,
o gato antegoza
ciúmes do beija-flor...
O rabo do gato no muro
descreve uma interrogação
que insulta o cachorro no chão.
7
No rastro do rato,
o gato, sem bulha,
mergulha no mato.
Os olhos do gato preto,
repiscam no negrume,
namorando o vagalume.
9
Gato gaiato,
bola de pelo,
rola o novelo.
A gata dengosa no cio,
olhando o telhado vazio,
parece gemer sete vidas.
11
Resta vaga magia
quando o gato afia
as unhas no tapete.
Resta vaga magia
quando o gato afia
as unhas no tapete.
A tarde se fica,
enquanto o gato
dorme na bica.
13
Na poça de rua,
um gato bebendo
o brilho da lua.
14
Do gato, restou o ronronado;
mas do canário, coitado,
apenas as penas.
15
No contrazul da janela,
qual nuvem no contravento,
gato branco passa lento...
No contrazul da janela,
qual nuvem no contravento,
gato branco passa lento...
Um gato vadio
miando no frio:
assim me sinto.
17
Olhar de gato,
mesmo com sono,
ainda decifra o dono.
18
Na rua antiga, cena de aquarela,
em cores triviais de tarde morna;
a madorna dum gato na janela.
19
O olhar da gata persa
conta uma estória inversa
das mil e uma noites.
O olhar da gata persa
conta uma estória inversa
das mil e uma noites.
Um gato pardo de andar
esguio e desafio
no olhar de esfinge.
21
Por causa dum gato,
sem dono nem sono,
perdi meu sapato.
Bartolomeu Correia de Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário